TÂNIA (texto em separado, em homenagem à Marília L. Paixão e à Tatychan)

E se Deus não estiver me esperando do outro lado

Se não me der a mão para me puxar dos vermes, do pó

Se não ve der outra vida e

se não for à porta do meu sepulcro dizer

Levanta-te e anda

Se me deixar lá dentro

no útero fértil da terra

sufocada

pisada

abandonada

Ou será que os bichos de minha carne

transformar-se-ão em plantinhas baloiçantes

ao sol de uma manhã de domingo

em um cemitério cheio de flores

lágrimas

velhos

E nem ao menos uma criança!

É muito triste ir dormir

entregar-se assim

de um modo cômodo e safado

a uma cama traidora

ao sono

amante assassino

tóxico

com efeito de oito horas

Ah, grande bandido

poço de cores

de sonhos

de imagens

Noite imbecil!

Encarregada de nos arrancar o amanhã

Glutona, vampira, devoradora de hojes

Para viver sempre indiferente

bela

vestida de luz e veludo

entre o negro cintilante e o azul descaradamente encantador

Eu vou,

amiga criminosa

vou porque é o jeito

e você

onipotente

magnífica

compacta

fica na indiferença de seus anos-luz

rapariga dos astronautas

bacanal de viagens siderais

O tropel

os cavaleiros

as cornetas

o barulho ensurdecedor

Oh, pensei-a estéril

parindo sem cessar

uma prole de noites

Sem o vermelho não sou

Com o meu vermelho, não!

É só meu, meu!

Hoje não vou me deitar

nem dormir de pé

simplesmente

não vou dormir

ficarei em qualquer lugar

Se eu sair caminhando

em busca do dia

você, miserável sarcástica,

chegará primeiro

ao Oriente , para me esperar

Eu quero o céu

quero meu céu que aprendi

cheio

de

safiras, topázios, ametistas, rubis

Quero os tronos

os leões

a luz intensa

os anjos louros

altos

fortes

vingadores

quero antes o Apocalipse

Não! Não, Senhor,

não me leve ainda

primeiro o Apocalipse

CADÊ DEUS?

Deeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuussssssssssss!

Deeeeeeeeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuuusssssssssssss!

Pelo amor de Deus

me dá

Tua

mão

me espera

O Céu se abrindo

e

CRISTO

O Juízo Final

Quero ser esmagada, triturada no ar

pelo mais possante braço

de um dos Quatro

Que mil raios me partam!

relâmpago

trovão

Tudo, menos o "Tu é pó e a ele haverás de tornar"