Embora...

Estrangulei o fracasso que rondas o passo --- cessei o risco que acena para a dúvida --- flainei num copo de cálice que esgota ao amanhecer --- pus a mesa as cinzas que um dia me queimou --- vomitei utopias que me andam e fazem voar --- estanquei o sangue das videiras que saliva silêncios --- beijei a boca do vento que rumina versos --- catei palavras vivas nas margens das eras --- voei no dorso de uma libélula cheia de sonhos --- enxuguei larvas do caminho perdido --- depositei a dor nas colunas da ilusão --- catei o poema da noite --- fitei o amor oco no riso da saudade --- fisguei o abraço ferido da tristeza --- amolei o destino no meu vício --- dedilhei o som opaco das esferas --- encobri de lágrimas o olhar da alegria ---- sorvi o sereno das rosas cálidas --- despi o instante morno nas costas do além --- colhi nuvens e seus desenhos --- lancei o grito manco na ânsia da palavra --- fuzilei o estouro da bala perdida --- retirei a farpa enterrada na tez --- recepcionei o beijo mal dado --- despelei o medo na cachaça --- esfreguei a alma no azul celeste --- benzi a morte me acolhendo --- descobri a voz que não se cala --- senti a vida desabrochando e indo embora feliz...