A Ditadura da Felicidade

Proibiram-nos outros sentires,

Mas quem? Quem são esses novos vizires?

Dizem até que a “Sociedade Civil” foi calada por esta Tirania.

Refém do MERCADO, o autor da “Ordem do Dia”.

Diz-me o MERCADO: não seja triste!

Compre o novo CD com o último HIT!

Ou um novo celular; ou, então, o PROZAC

Que alegra e evita um novo ataque.

Não seja triste!

Ria até dos bobos chistes.

Mas . . . posso sentir saudade?

Comportar-me conforme a minha idade?

Não! Diz o MERCADO. E a lucratividade?

Posso, então, querer ficar só? Sentir a doce maturidade?

Não! Vá ao Baile da “Melhor Idade”!

É que eu não gosto, moço. É que eu gosto da vida passada.

Cale-se. A norma que evita o Asilo é entrar no “Clube da Risada”!

Posso, então, sentir nostalgia.

Sabe . . . moço; as antigas fantasias.

Aquilo que guardei da vida, as minhas lembranças.

Não, não pode. Comporte-se como os outros. Sejam tolas crianças.

Mas, então, eu posso ser Eu? Usar todos os sentimentos?

Não, não pode! Seja feliz!

Mas . . . é que eu . . . Não! Tome os novos medicamentos.

A “Indústria da Felicidade” inaugurou a nova Matriz.

Mas é uma felicidade falsa, moço . . .

Não! É esta que o MERCADO determinou.

Mas é uma vida incompleta, moço . . .

Eu quero viver todas as sensações,

Cada uma das várias emoções . . .

Não! Não há registro, Senhor . . . Ligue mais tarde.

E morrer . . . moço . . . eu posso?

“Estaremos Verificando”, Senhor . . .

Senhor?

Sim, e então? Posso?

Pode, mas o faça escondido. Na UTI mais próxima.

Mortos não compram, Senhor . . .