MIL PERDÕES

Perdão tem gosto azedo, emburrado, desaforado.

Desce garganta abaixo esbravejando, socando o ar,

reclamando da vida toda vida.

Perdoar exige sangue de barata,

exige salvo-conduto, exige alma dura,

sagaz, calejada e sábia.

Mas tem aquele perdão placebo, café-com-leite,

da boca pra fora, soberbo, pífio.

Mas tem aquele perdão fogo-de-palha,

mordido pela vingança, pela dor-de-cotovelo,

e nada mais.

Mas tem aquele perdão dublado, farsante, dissimulado.

Mas tem aquele outro que você conhece tão bem e guarda só pra si.

E tem o perdão-raiz, de peito armado, de cara limpa,

que escancara suas veias, que desnuda todas intenções,

todos propósitos, todos poréns, todos ventos contra.

É aquele que faz Deus chorar de tamanha satisfação,

tamanha alegria, tamanha razão de existir.

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 11/03/2022
Código do texto: T7470566
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