Apertos

É tudo tão pequeno diante do tudo....

As formigas se engalfinham, em busca de espaço

Os carros disputam espaço nas ruas pequenas e desesperadas de Goiânia...

E aqui, soterrada,

Meu coração divide espaço com outros órgãos...

Tudo é uma questão de pequenices desvairadas...

e eu, por acaso beco...

eu, por acaso....

vejo...

pedaços de peito, que se engalfinham dentro...

uma angústia, um verso sem saída...

uma vontade de gritar pra dentro,

pra ver se o medo acorda e deixa...

pra ver se o verde estandarte desenvelhece...

e eu, que triste, peço...

eu que tristemente verso, disputo o espaço...

de toda a imensidão de espaço que me cerca...

mas no peito, se apertam versos,

no peito se apertam órgãos dispersos...

no peito o aperto perto....

sertão em mim,

você em mim,

cada vez mais....

Voando...

Voamos, vamos...

Pra beira do teu peito,

Pro sossego livre, pro desaperto....

Mas aqui é dentro....

É beco...

É saudade, apenas...

Talvez um espaço vazio

em meio a tantos vazios desenfreiados....

Talvez o aperto dos vazios implícitos e intocáveis....

Talvez a disputa entre o vazio e a falta de espaço....

[Inês Martins]