ADIAMENTO

Chegarei tardio à minha derradeira hora

tenho diariamente atrasado os relógios

e alterado os anos dos calendários

Vivo no século passado

quando menino me distraia de perenidades

e todos meus vivos estavam todos presentes

Lá os cachorros tinham a idade dos milênios

e o tempo passava por entre pernas e cabelos

com a mudez vaporosa das brisas matinais

O passado é a permanência dilatada

que nos avoluma e incha por dentro

feito um guloso que sempre raspa os pratos

Em meu passado não há futuros

tudo lá é somente pretéritos inatuais

mas é lá no ontem do hoje de mim

que a imortalidade nunca me fora saudade

Que Hades me espere um pouco mais

ainda não tenho as moedas necessárias

e possuo um pacto com aquele menino

dele continuar brincando até o sereno da tarde

Por favor não me digam as horas exatas

prefiro os horários do sol que o corromper

das minhas quebradiças carnes

- Por isso sou um homem assim tão delongado

suspenso, moroso e um tanto arrastado

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 11/03/2022
Reeditado em 11/03/2022
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