CEMITÉRIO DAS NUVENS
Nunca consegui acompanhar o findar das nuvens
e o ocultar dos seus desvanecimentos.
Desde garoto contemplo
o suave esbranquiçado dos seus movimentos
a pincelar desenhos formas e rostos
como algodões a desinfetar o céu
pigmentando minha alma de azuis.
Não é a vida que passa ou muda
são as nuvens que se transmutam em nuvens
no bailar infindável e irrepetível de suas liquefações.
Para onde vão as nuvens e este menino
onde meus olhos fatigados não alcançam
além dos horizontes negados às mãos?
O que há no mar a seguir deste em que navegam
sem peso ou gravidade que as segurem
no arrastar-se sobre o ventre da terra
em que habitam diminutos demais insetos?
Quando chegar a hora do meu desaparecimento
quero ir para onde estão minhas perdidas nuvens
este secreto paraíso de inocências e ingenuidades
e me deixar chover por todo o resto da eternidade