CEMITÉRIO DAS NUVENS

Nunca consegui acompanhar o findar das nuvens

e o ocultar dos seus desvanecimentos.

Desde garoto contemplo

o suave esbranquiçado dos seus movimentos

a pincelar desenhos formas e rostos

como algodões a desinfetar o céu

pigmentando minha alma de azuis.

Não é a vida que passa ou muda

são as nuvens que se transmutam em nuvens

no bailar infindável e irrepetível de suas liquefações.

Para onde vão as nuvens e este menino

onde meus olhos fatigados não alcançam

além dos horizontes negados às mãos?

O que há no mar a seguir deste em que navegam

sem peso ou gravidade que as segurem

no arrastar-se sobre o ventre da terra

em que habitam diminutos demais insetos?

Quando chegar a hora do meu desaparecimento

quero ir para onde estão minhas perdidas nuvens

este secreto paraíso de inocências e ingenuidades

e me deixar chover por todo o resto da eternidade

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 10/03/2022
Reeditado em 10/03/2022
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