PRATO CUSPIDO
Cuspir no prato comido com gosto,
com volúpia, com prazer do tamanho do Everest.
Desprezando todos mimos, olhares ternos,
olhares queridos.
Jogando no lixo os tempos vividos, as alegrias ungidas,
o tempo cerzido segundo a segundo.
Abdicar de agradecer, de creditar, de admitir
o quanto foi bom, foi útil, foi lindo, foi tudo.
Daí pega a trouxa, pendura no ombro e se manda pro mundo,
sem olhar mais para trás.
Nunca mais olhar pra trás.
Mas a vida, sutil e justa, prepara o troco. E como prepara.
Quando menos se espera, virá de volta com o rabo entre as pernas.
Se fazendo de arrependido, de sofrido, de querendo
o chão cuspido de volta. Posso?...
Nessas horas, talvez, a porta não estará mais escancarada
à espera.
Como fechado estará o coração, o querer-bem, o perdoar.