NO INTERIOR DAS SEREIAS
Parem as máquinas
suspendam o tempo
Congelem os São Joãos e os Natais
deixem tudo que estão fazendo
Que seja amanhã feriado nas escolas
fábricas comércios e repartições
Indultem os presos
desocupem os manicômios
fechem os bares e os bordeis
interrompam velórios e enterros
pois de tudo o que me sobrou
basta somente apenas este meu
Que estejam todos às calçadas
desliguem por minutos
os afazeres miúdos do cotidiano
e se retirem dos mundinhos
para então ver passar
pelas bordas e arredores da vida
este meu tão anônimo
e desacompanhado cortejo
Que se alegrem as flores
que cantem os pássaros
que venham a lua e as estrelas
juntas com o sol
regozijarem-se neste apressado dia
em que minhas cinzas serão lançadas
no costado dos Oceanos
quando afogadas se espalharão
a alimentar corais crustáceos
peixes e todas as sereias