ME ENCONTREI DE REPENTE
Sempre que amei
tive vontade de gritar o amor
e meu encantamento
aos quatro cantos
soltá-lo ao vento
para que todos ouvissem,
comentassem,
sorrissem,
festejassem.
Sempre que amei
quis anunciar em outdoors,
faixas, cartazes,
em letras garrafais...
Escrever nossos nomes
em folhetins
e atirá-los ao mundo
pelos bicos de todos os pássaros
pelas janelas de todos os aviões
numa festa sem fim...
Sempre que amei
tive vontade de pichar os muros
pela cidade inteira
talvez pelo mundo,
em todas as línguas
com todas as letras
cheinhas de cor,
tintas carregadas
de cio e de amor.
Mas de repente
me encontro diferente!
Surpreendentemente,
quero um amor silencioso
calmo, discreto, dengoso...
Um amor que seja somente
meu e do amado...
que ninguém dele saiba,
que ele fique fechado
e seja segredo
guardado ciumentamente
e apenas devassado
na imensidão da poesia.
E, mesmo assim,
que contamine toda a gente
como uma epidemia.