BERRANDO ÓPERAS
Poeta sem inspiração é mar seco,
voz oca, querer esquisito.
Seus ossos titubeiam, âncoras gaguejam,
olhos veem o que está à frente
e nada mais.
Sem inspiração, poetas emburrecem,
ficam ásperos, acuados, desmamados,
parecem ventos perdidos, à deriva,
e nada mais.
Quando a inspiração descola dos poros,
a alma cabisbaixa, enfeia, entorna,
se faz derrotada, desmantelada, abobada,
fica chão descolorido, desmontado,
e nada mais.
Mas quando a inspiração à casa torna,
o céu arrepia, berras óperas, ascende,
fica como Deus tanto quis
e nada mais.