A METAPOESIA DOS ASFALTOS
Minha paisagem é urbana e
em um dos meus horizontes
se vê a escapatória do mar
A vida se estica e encolhe em
cenários de cores cinzas e
tingidos muros pigmentados
quentes e vivos pelas pichações
e grafites dos gritos anônimos
dos esquecidos e injustiçados
Não vim do verde dos canaviais nem
dos amarelos desensopados
dos semidesertos e
dos afastados povoados
Sou do asfalto e dos cimentos da
floresta citadina e suas calvícies
aqui e acolá disfarçadas sob árvores
planejadamente plantadas e podadas
por mãos que não foram as minhas
Minha língua é a das ruas dos becos e bares
mas também é a dos shoppings restaurantes
saraus e vernissagens
Da natureza pouco sei exceto
pelos matos que escorrem
pelos edifícios e prédios abandonados
Falo versos invertidos e olhando para
dentro pois em mim habita um mundo maior
que o Sistema Solar a Via láctea
as galáxias e o Universo inteiro
Sou do asfalto e de todos seus mistérios