A METAPOESIA DOS ASFALTOS

Minha paisagem é urbana e

em um dos meus horizontes

se vê a escapatória do mar

A vida se estica e encolhe em

cenários de cores cinzas e

tingidos muros pigmentados

quentes e vivos pelas pichações

e grafites dos gritos anônimos

dos esquecidos e injustiçados

Não vim do verde dos canaviais nem

dos amarelos desensopados

dos semidesertos e

dos afastados povoados

Sou do asfalto e dos cimentos da

floresta citadina e suas calvícies

aqui e acolá disfarçadas sob árvores

planejadamente plantadas e podadas

por mãos que não foram as minhas

Minha língua é a das ruas dos becos e bares

mas também é a dos shoppings restaurantes

saraus e vernissagens

Da natureza pouco sei exceto

pelos matos que escorrem

pelos edifícios e prédios abandonados

Falo versos invertidos e olhando para

dentro pois em mim habita um mundo maior

que o Sistema Solar a Via láctea

as galáxias e o Universo inteiro

Sou do asfalto e de todos seus mistérios

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 05/03/2022
Reeditado em 05/03/2022
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