ALEGRIA RIBEIRINHA
(APAGANDO A TRISTEZA)

MIGALHAS DO CORPO SANTO
QUASE INVISÍVEIS
DERRAMAM-SE NO CHÃO DA CAPELA
FINDA-SE O TEMPO DAS PATENAS DOURADAS
FOI O HOMEM ENVELHECER
MASTIGAR SUA VELHICE
MEDITANDO OS OLHOS NOS CARROS DE BOIS
NO VENDEDOR DE CARVÃO
NO VENDEDOR DE PAMONHAS
QUE AO LONGE PARECE A MULA SEM CABEÇA

O RIO INICIA SEU CAUDAL
NUMA FLUÊNCIA MILIMÉTRICA
SURUBINS RESPIRAM ALIVIADOS
O PEIXE CALEIDOSCÓPIO REBRILHA
DEIXANDO CENTELHAS DE CRISTAIS NA SUPERFÍCIE
AS MENINAS ESPERAVAM O SOL DEITAR NA FLORESTA
BANHAM-SE AGORA
PROVOCANDO OS BOTOS QUE
DEVORAM SEUS SEIOS ADESIVADOS
ILUMINADOS PELOS CRISTAIS
NOS ENVELHECIDOS VESTIDOS DE ALGODÃO
DIA DE TODOS OS SANTOS
INICIA HOJE O TEMPO DA FARTURA
ALEGRE REBENTAÇÃO

TEMPO DAS BANANAS GORDAS
MIRITI-SOL, LAMAS DE TUCUMÃ,
CAROÇOS DE UXIS BOIAM ROÍDOS POR CURUMINS
CARAPANÃS DESAFINADOS TOCAM RABECAS COM SERROTES
O MANDII COM SEU ESPORÃO É O GUARDA-RIO NOTURNO

LÁ LONGE
A PROCISSÃO DE SANTOS E MARTÍRES
JOANA, MARIA, ROSA, JUDITH, ODALÉIA, FÁTIMA, MARINA, MARIQUINHA, PANTOJA
POSSUEM AURÉOLAS DA ORQUESTRA DESAFINADA DOS CARAPANÃS
A BEATA MANDONA DESAFIA OS (DESA)FINADOS
CHORA MAIS ESTRIDENTE
PELAS ALMAS PESCADAS NO TEMPO DA CEIFA DO RIO
ENTOANDO O LAMENTO DE JESUS DEPRIMIDO
"AI DÉ TI Ó BETSAIDA, AI DÉ TI Ó COROOZAIN
EU JÁ FIZ MUITOS PRODÍGIOS
MAS NÃO ACREDITARTES EM MIM"

NO INTERIOR DAS CASAS DE BARRO
CANDEEIROS DERRAMAM LUZES ENCARDIDAS
SOBRE JESUZINHOS NAS REDES ADORMECIDOS
O PERFUME É DE QUEROSENE

MIGALHAS DE CRISTO EMPOAM O CHÃO DAS CAPELAS
OS PESCADORES ARRIBAM EM SUAS CANOAS
AS ÁGUAS GRÁVIDAS, SE EMBARRIGUDANDO
CRESCEM DE FIO A PAVIO
PESCADOR SABE DE ÁGUAS EM GESTAÇÃO
E SE LANÇA REMANDO NA ESCURIDÃO
Edmir CARVALHO BEZERRA
Enviado por Edmir CARVALHO BEZERRA em 22/11/2005
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