Testamento

Não tenho nada a deixar,
além do que já “me dei” 
além do meu verso torto, 
e da minha rima pobre, 
penso, não há o que sobre. 
Por isso, sem testamento: 
não deixo nada a ninguém;
nem parente, nem amigo, 
nem mesmo os mais belos 
momentos 
pois estes, os levo comigo. 
Não há o que procurar 
nas gavetas, nos armários, 
além de um escapulário 
e uma imagem de Santa Rita. 
Mas tem sim, coisas bonitas, 
que eu deixarei, bem no fundo:
o amor que eu sempre dei, 
a fé que animou minha vida, 
e o filho que pus no mundo!