Sertão
Distante do olhar de toda gente
Da terra desvalida
Com fome de pão
Com fome de vida
Da terra vermelha, de chão batido
Do solo rachado, extremo, rigoroso
Emergem histórias contadas
De um povo que sobrevive com tão pouco
Sertão,
Da seca extrema que insulta
Envelhece tantas expectativas
Consome os dias em desventuras
Na ausência de toda abonança
Sertão,
Que forja no calor escaldante
Homens e mulheres anônimos
De uma força contagiante
Pra viver sob o jugo do abandono
Sertão,
Que inspira cantigas de roda
Dos cordéis paridos sob arrebol
Da letra que sangra e chora
Criadas por mãos tão calejadas do sol
Dúbio amanhã pelas trilhas da caatinga
Do filho franzino que sorve o peito
Olhando o céu que cega a retina
À espera da chuva pra banhar seus leitos
Sertão,
De gente de cerviz forte
Que resiste de sol a sol e persiste
Que vence o tempo e a morte
Criando caminhos onde não existe
Deste vasto sertão,
Tendo o céu imenso como testemunha
Não se abatem diante dos desafios
O sertanejo não foge da labuta
Do obstinado sertão nordestino
Sertão,
De recursos agrestes
De um povo sofrido que não se rende
Transcrevendo o curso da interpérie
Do cenário estio, cava uma nova nascente