AMORÓDIO
Amor e ódio são partes do mesmo ventre,
da mesma rima, do mesmo chão.
Um não vive sem o outro,
é no outro que um nutre seu sangue, seu suor, sua voz
e seu legado.
Amor e ódio caminham irmanados,
falam a mesma língua,
respiram o mesmo ar,
têm os mesmos destinos,
dividem o mesmo cobertor.
Algumas vezes, um se disfarça do outro,
fazendo valer essa farsa até por toda vida.
São hábeis no iludir, no dissimular, no entreter.
Tanto é verdade que o próprio Deus fica em dúvida,
às vezes, sobre o que é um, o que é outro.
Se mesclam e interagem de tal forma,
que deixam de ser amor e ódio
e passam a ser amoródio,
uma coisa só, unicelular e uníssona,
partes da mesma alma, do mesmo rito,
da mesma poção.