Putrefação

Quando semearem meu corpo na terra

Em cova reles aberta por vis mãos,

Depositarão ali minha carcaça vazia;

em breve, ignóbil.

Então minha carne se decomporá

Qual a poesia se decompõe

Em estrofes, versos, palavras e letras.

Meus restos fertilizarão as flores

Das quais desabrocharão novas poesias

Que alimentarão as abelhas da mente

Com novas inspirações.

Os vermes necrófagos,

Que não entendem nada de poesia,

Passearão pelo meu corpo

E só o que serei para eles

Será uma refeição,

Uma grande e saborosa refeição,

Me devorarão com a mesma ânsia

Que eu devorava uma poesia

de Pessoa, Drummond ou Quintana.

Então meus órgãos se liquefarão

Com tudo o que fui,

Meus sonhos , meus medos, meus amores,

Minhas crenças, minhas ilusões, minhas dores,

Minhas loucuras, minhas perspectivas,

Minha poesia.

Mas quando a gaiola no meu peito desmantelar-se

o pássaro, por tempo preso, liberto voará

E carregará no bico um ramo de esperança.