Outubro
Era uma noite fria
E chovia sem parar.
Passei o resto da noite calada,
Em mim.
Olhava o céu sem abrir a boca.
Me sentia aflita por demasiado para tentar me distrair
E ansiosa demais para dormir.
Apenas conseguia remoer todos os apertos do meu peito, em silêncio absoluto.
Toda a minha tristeza fazia meu coração bater acelerado e manter meus olhos abertos.
Apesar de estar acostumada a me sentir mal,
Não conseguia me amparar.
Esperava que as horas passassem e os dias mudassem.
Passei a noite calada e até a manhã seguinte não falei nada.
Fiquei o dia inteiro muda.
Preferia assim.
Não ouvia minha voz e ninguém me ouvia.
Minha própria vida me amaldiçoava,
Quebrava minha esperança
E aos poucos me matava.
Quisera eu dizer que os dias de redenção chegaram e os dias já não são os mesmos,
Mas sigo tão pesarosa quanto antes.
Minh'alma segue tão triste e obscura.
Mas naquela noite, naquela impiedosa noite,
Eu permaneci calada. Completamente muda.
Só conseguia ouvir meus batimentos,
Quietos e ritmados.
Quase imperceptíveis.
E meus olhos piscavam,
Sem fazer vento a qualquer criatura viva,
A qualquer poesia manuscrita.
Eu apenas existia,
Mastigando minha tristeza sem emitir um som sequer.
Apenas ouvia a chuva caindo
Acompanhando todas as lágrimas que dos meus olhos saíam.
E elas caíam ordenadamente.
Tão amargas que rompíam minhas retinas.
Meu peito pesado me fazia respirar devagar;
Não havia fôlego.
E apesar de estar acostumada a me sentir mal,
Não conseguia me amparar.