PARQUE TREZE DE MAIO
Todos os caminhos me trazem de volta
ao Parque Treze de Maio
sítio arqueológico de um passado
onde se acham enterrados os ossos da minha infância
Emergido dos antigos manguezais
teus bancos enraizados no solo das areias
acompanharam sentados o despedir dos meninos
que como eu brincavam soltos e desavisados
Cercado pelas línguas dos asfaltos
foi lá meu roçado onde plantei pés de feijão
nos quais subi às nuvens e ocupei castelos desabitados
Eu que fui formado pelas paredes dos prédios
e pigmentado de cimento, tijolo e cal
tinha nas alamedas dos teus bosques encantados
minha estrada de tijolos dourados
que nem as mechas dos meus cabelos pintados
No oxigênio que emana das tuas árvores
pardais cantarolam alvoradas
como se fossem rouxinóis e sabiás
enquanto a cintilância das manhãs azuladas
reveste as trilhas em que meus pés se sujavam
O monumento aos cantadores
os escorregos entrelaçados
os balanços oscilantes ao vento
e as fontes onde se banham os patos
são partes da moldura daquele antigo quadro
no qual eu e meu cachorro já não estamos mais
O parque ainda sobrevive com outras crianças
no mesmo bairro em que estão situados
os túmulos do Cemitério de Santo Amaro