PARQUE TREZE DE MAIO

Todos os caminhos me trazem de volta

ao Parque Treze de Maio

sítio arqueológico de um passado

onde se acham enterrados os ossos da minha infância

Emergido dos antigos manguezais

teus bancos enraizados no solo das areias

acompanharam sentados o despedir dos meninos

que como eu brincavam soltos e desavisados

Cercado pelas línguas dos asfaltos

foi lá meu roçado onde plantei pés de feijão

nos quais subi às nuvens e ocupei castelos desabitados

Eu que fui formado pelas paredes dos prédios

e pigmentado de cimento, tijolo e cal

tinha nas alamedas dos teus bosques encantados

minha estrada de tijolos dourados

que nem as mechas dos meus cabelos pintados

No oxigênio que emana das tuas árvores

pardais cantarolam alvoradas

como se fossem rouxinóis e sabiás

enquanto a cintilância das manhãs azuladas

reveste as trilhas em que meus pés se sujavam

O monumento aos cantadores

os escorregos entrelaçados

os balanços oscilantes ao vento

e as fontes onde se banham os patos

são partes da moldura daquele antigo quadro

no qual eu e meu cachorro já não estamos mais

O parque ainda sobrevive com outras crianças

no mesmo bairro em que estão situados

os túmulos do Cemitério de Santo Amaro

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 23/02/2022
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