Iara

Quando acordo /

Vou a janela o dia vislumbrar/

E se por ventura/

Te vejo passar/

Sem culpa nenhuma/

A desfilar aquele andar/

De flor agreste à beira do rio/

Em noite de luar/

Sinto um mistério me chamar/

E se teimo te olhar/

Percebo a graça ao redor/

Me servindo as correntes/

Para ser escravo/

Dessa tua beleza marajoara/

Envolto a essa candura/

Divago no desejo de te ter pra amar/

Beijar profundamente essa tua boca/

Sentindo a pele da carne/

Sobre a carne tremulejar/

Com o sangue e o suor a misturar/

Em cada suspiro e no âmago entranhar/

Embora a lucidez das horas/

Sob a alcunha da razão/

Me perguntes se a loucura /

Tornou padrão/

Se sou único a cultuar/

Esse espinho latente no coração/

Entre o sim e não/

É no compasso dos teus passos/

Que dou-me conta de tão fina graça/

E vejo, que não só eu /

Ouso me render a ti/

Pois quando surges a caminhar dali/

Sob o silêncio dos teus verbos/

Com àqueles cabelos negros /

Que tomam o ar/

Num jeito tímido e simples /

Da menina mulher/

Que convida a queimar/

No fogo da paixão/

Enfeitiça a qualquer um/

Que ousar te olhar/