TODA CIDADE TEM UM GOSTO, TODO GOSTO CARREGA UMA CIDADE
Recife tinha carroças
e sobre elas havia vários pomares
que eram de nos dar rios na boca
antes do almoço e dos jantares
Recife tinha cheiro de frutas
jacas, pinhas, mangas e cajus
e as crianças e os seus velhos
pareciam todos enamorados
levando nas mãos e nos dedos
montes enfeixados de pitombas
como se fossem buquês de flor
coberto com pétalas de amor
Nos meses de março e abril
é o que mais se via espalhados
pelas calçadas, cantos e esquinas
pomos que se aparentavam ser
rechonchudas bolinhas de gude
rolando passageiras pelas ruas
Suas finas polpas suculentas
eram doces como seios de mãe
dava até para enganar a fome
no tempo interminável dos minutos
nas esperas dos próximos ônibus
Quem nunca comeu pitomba
não conhece o sabor do Recife