Cotidianices
Acordar e despertar,
Acordar é mais fácil
Despertar é mais profundo.
Fazer a toalete,
Desjejuar, não pode faltar café,
nem fé.
Ver o sol nascer,
Caminhar,
Respirar ar puro,
Ouvir os pássaros
e o barulho dos carros,
prefiro os pássaros.
Regar as plantas.
Colocar o lixo pra fora,
as sobras inúteis
das coisas exauridas.
Alimentar os cães.
Ouvir música,
hoje vou de Rock and Roll.
Cozer o almoço,
Tomar um vinho.
Dizer eu te amo,
eu me amo,
eu amo,
amo,
amo-me ,
amo-te;
conjugar o verbo amar
em todos os tempos, modos e vozes;
a gramática é confusa,
mais confuso ainda é meu coração.
Almoçar, pois saco vazio não para em pé,
como dizia uma tia minha.
Purificar os instrumentos do ritual alimentício,
ou simplesmente lavar a louça.
Ler Mario Quintana.
Escrever uma poesia.
Dar um pulo na Terra do Nunca;
Tô fazendo aulas de voo com o Peter.
Estudar italiano.
Ir a academia.
Parar...
respirar...
... continuar.
Apreciar uma borboleta silenciosa cortando o caos.
Abastecer o bebedouro dos colibris.
Comer a sobremesa;
bolo de cenoura com calda de chocolate.
Ligar pra esposa.
Dar migalhas de esperança
as pombas da paz.
Ir ao mercado
comprar esponja de aço,
sabonete,
creme dental
e poesia.
Apreciar os flamboyants floridos.
Assistir um romance italiano antigo,
daqueles onde o amor ainda vençe.
Botar a roupa pra lavar;
quem dera lavar minh'alma
do preconceito e da hipocrisia.
Na porta da geladeira
Um lembrete:
*Aulas de esgrima com D'artagnan
na França de Luiz XIII.
Ter esperança,
ter esperança,
ter esperança .
Rir ,
rir muito,
principalmente das minhas tolices.
Assistir a revoada barulhenta das maritacas.
Escrever uma carta.
Que disparate meu,
as pessoas não escrevem mais cartas.
Beijar a face do filha.
Comer uma fruta.
Brincar com os cães.
Sentir o perfume do jasmim,
Plantado num vaso na varanda.
O quê?!
Já são dezoito horas!
Meu Deus o dia voou.
Assistir o por do sol
derramar suas cores no horizonte.
Tomar banho,
purificar-me,
La vão meus pecados pelo ralo.
Estou puro outra vez,
Amanhã posso pecar de novo.
Beijar a esposa.
Jantar em família;
pai, mãe e filha.
Sentir a brisa noturna.
Observar a lua
e as estrelas.
Fazer amor.
Amar, amar, amar...
O sono chega e acalma meu coração.
Despeço-me dos meus,
boas-noites e os amo.
Me entrego sem resistência a Morfeu.
Durmo.
Talvez sonhe.
Mas se não sonhar...
amanhã será um novo dia,
uma nova poesia.