Lápide
Sob a lápide jaz o que sorria
O que chorava
O que amava
O que andava
O que zombava.
Sobre a lápide a última oração
O choro dos entes
A flor a murchar
A vela a queimar.
Sob a lápide jaz sua história
Suas lembranças
Seus amores
Seus temores.
Sobre a lápide os últimos soluços
Os últimos lamentos
Os inférteis porquês.
Sob a lápide o sono eterno
O breu perpétuo
Odescanso final.
Sobre a lápide a brisa que não o toca
Achuva que não o lava
O perfume que não o embriaga.
Sob a lápide os olhos cerrados
Os lábios calados
O coração inerte.
Sobre a lápide o mármore frio
O ícone mudo
O vaso vazio.
Sob a lápide o suspiro interrompido
Os passos cessados
Os desejos minados.
Sobre a lápide
Os pássaros a brincar,
sem saber que ali jaz um ex vivo.
Sob a lápide jaz com ele seus segredos
O não dito
O não feito
O inacabado.
Sobre a lápide o mundo dos vivos,
alguns nem tanto, mortos vivos.
Sob a lápide não há mais tempo
Não há mais chance
Não há mais oportunidades.
Sobre a lápide a rotina contínua
O sol brilha
A noite chegar
O vento canta
As estações se sucedem.
Sob a lápide
a esperança de vida após o óbito.
Sobre a lápide
O transcorrer do tempo
Dos dias
Dos meses
Dos anos.
Sob a lápide suas convicções
Filosofia de vida
Crenças
Paixões.
Sobre a lápide transcorrem as estações
As intempéries
As fases da lua,
O nasceres e pores do sol.
Sob a lápide a única conclusão é morre.
Sobre a lápide pousam as folhas
Varre-a o vento,
Lava-a a chuva.
Sob a lápide tu és pó e ao pó voltara.
Sobre a lápide resta um retrato,
Que o tempo desbota
Desgasta
Corroí.
Sob a lápide a crisálida mortal.
Sobre a lápide os pássaros brincam
Os cães dormem
As árvores sombreiam.
Sobre a lápide a vida prossegue,
Teimosa,
Apesar do luto,
A vida não para.