ADEUS JOAQUIM

Aos poucos me vou despedindo de morrer

Cada vez menos vou a velórios

não me restam muitos a enterrar

As casas juvenis já se foram

tragadas pela fome dos homens

e aterradas pelo progresso das cidades

Porém ainda perduram as praças

e as placas das ruas em que morei

Acabaram os jogos de amarelinha nas calçadas

e os balanços amarrados em galhos de árvores

(ninguém mais come

as lágrimas derramadas dos oiteiros)

Para onde foram as tanajuras

se já não vejo mais as centopeias?

O que o menino tinha para perder

ou sumiram ou se extraviaram

entre ruelas, travessas, becos

e uns outros tantos gargalos

Já vesti todos os lutos que devia envergar

agora me recuso ao agasalhar dos próximos

Hoje não é mais a vida que se afasta de mim

sou eu que me retiro dela

Estou quase desistindo de continuar morrendo

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 17/02/2022
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