RECIFE

Do encontro das águas dos rios Capibaribe e Beberibe

um oceano nasce em Recife

(todos os que se banham no Atlântico

são um pouco recifenses)

Em Recife seus caminhos são feitos de versos

esparramados pelo chão em que pisaram

os solados dos meus mais retirados antepassados

(aqui se bebe poesia nas mesas e nos botecos)

Tem uma rua que se chama Aurora

do outro lado a do Sol e sua eternidade

há aquelas ainda que são Saudade

Beira Rio, Concórdia e Soledade

Em Recife suas pontes atravessam o céu

a vida, o mundo e a cidade

e se fincam no interior desarmado

do coração mais íntimo das biografias

Foi lá em que nasci

brinquei e cresci

e foi aqui que encantado conheci

uma menina vinda de Palmares

que juntos repousaremos para sempre

nas terras e nas árvores do Cemitério de Santo Amaro

Em Recife as noites não dormem

apenas escoam por sobre sobrados

encobrindo carinhosas e delicadas

os bêbados, os poetas e as madrugadas

Em Recife o dia se põe até mais tarde

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 15/02/2022
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