RECIFE
Do encontro das águas dos rios Capibaribe e Beberibe
um oceano nasce em Recife
(todos os que se banham no Atlântico
são um pouco recifenses)
Em Recife seus caminhos são feitos de versos
esparramados pelo chão em que pisaram
os solados dos meus mais retirados antepassados
(aqui se bebe poesia nas mesas e nos botecos)
Tem uma rua que se chama Aurora
do outro lado a do Sol e sua eternidade
há aquelas ainda que são Saudade
Beira Rio, Concórdia e Soledade
Em Recife suas pontes atravessam o céu
a vida, o mundo e a cidade
e se fincam no interior desarmado
do coração mais íntimo das biografias
Foi lá em que nasci
brinquei e cresci
e foi aqui que encantado conheci
uma menina vinda de Palmares
que juntos repousaremos para sempre
nas terras e nas árvores do Cemitério de Santo Amaro
Em Recife as noites não dormem
apenas escoam por sobre sobrados
encobrindo carinhosas e delicadas
os bêbados, os poetas e as madrugadas
Em Recife o dia se põe até mais tarde