CASTIMBANDO NO CHÃO
Minha alma, como toda alma,
tem goteiras e gostos estranhos,
que adoro percorrer sem que ela perceba.
Nesses mergulho nas surdinas da vida,
flagro partes de mim novatas,
algumas delas com cheiro de víbora,
outras que adoram uma farra doida,
outras que encantam feito versos de Deus.
Minha alma, como toda alma,
respinga sândalos deliciosos,
faz sair dos seus poros tudo de mim
e nada de mim ao mesmo tempo.
Tento ludibriar seus gingados,
tendo dissimular seu ar, em vão.
Mas ela, bem diferente das demais,
guarda no seu baú pétalas peculiares,
tecos alvissareiros dos passos dados,
e dos que deixei de dar,
por medo, por desgosto,
por ter mais o que fazer.
São nessas cascatas secretas
que sacio meus pousos mais lindos
de estalar, de ressabiar,
de castimbar no meu chão.