CANTOS
Eu durmo pelos cantos
Em teu manto, desprotegido
E ainda me vejo coagido
Por existir dentro de ti
Oh! Minha amada de cores vultosas
Tenha dó da minha pele
Dê igualdade a teus filhos
Das mais lindas e horríveis diferenças
Doenças, classes, sabores e crenças
Pra que em ti floresça a união
Repartas tua riqueza à prole
Pois o Palpável talvez à minha Fome console
E não só te ter no coração.
As chapadas que me deste
Aos meus olhos de beleza embaçam
Pelas lágrimas que enchem e descem
Rosto a baixo como em ti corredeiras
Belas quão tuas manhãs que florescem
E ao céu amiúde rejuvenescem
De trás das tuas serras costeiras.
Em ti me vejo tão anestesiado
Em tão eterna vertigem que não vejo
Que estou constantemente sendo roubado
Por forças particulares de desejos
Dos que te sugam e te fazem parasitar
Mas meu amor por ti ainda há.
Creio que não te ame cegamente
Ou o faça sempre e não perceba?
Amo menos em ti a bandeira e mais a Gente
Que em ti trabalha dominada
Acreditando que um dia será recompensada
Por um deus que nem sei se existe.
O que há de real é esta alegre gente triste
Que chega cansada e ainda assiste novela
Sem saber que quem manda é aquela
Na sua vida injusta e miserável
Mas a burguesia, que não passa fome
Nem sabe o que é mesmo sofrer
E acha que perder um avião é dor considerável!
Ah! Tanto eu quis admirar tuas maravilhas
A bordo de tuas correntes de ar
Viver teus pingos d´aquarela: ilhas!
E sentir cada gota do seu mar
Amar quem eu deseje fazer feliz
Sem deixar a nossa aliança de lado
Me aquecer em teu tecido matiz
Nas noites frias de Brumado
Sem me ver recolhido a colônias
Ou a elas exterior, expulso, discriminado
Ser auriverde em todo lugar e por paixão
E nunca apenas, somente de papel passado
Quero ganhar-te e dar-te-me são...
Quero receber o mundo de braços abertos
E não com as pernas na mesma posição
Amar o diverso como próximo! perto
Como em nós em cada feição
Descobrir as manifestações do meu povo plural
Não gostar, amar, mas poder conhecer.
Fitar tua bandeira sem traços retos
Sentindo que me pulsa dentro o coração
Por relembrar da minha história
Porém, desta vez, eu como parte canção
Ser ninado por seus cantos suaves
E logo dormir naquele berço esplêndido
E acordar cedo tão feliz como se fosse tarde.
Um dia será Belo o meu Dormir pelos cantos
Pois dormirei por eles embalado
Não neles – tão sórdidos! – sujo e jogado
Nem desprotegido me encontrarei
Em teus braços renascerei mais forte!
E mais forte te guardarei em mim
Não me deixarás nem eu a ti entregue à sorte.
Não devo esperar que o tempo mude
Nem que os Nortes virem ventos a meu favor
Tenho que tomar de vez uma atitude
Ou terei, por esperar, somente a morte
Tomemos hoje as ruas e destruamos a Falsa paz!
Mas não só na hora dos comercias.