Velha mesa

Era uma presença suntuosa na varanda ,

Tomava-a quase toda de comprido,

Era um velho jatobá que caíra por um raio

Numa noite de tempestade de verão.

Os homens retiraram as extremidades ,

Munidos de barulhentas motosserras,

Depois partiram o tronco ao meio,

De alto a baixo,

Deitaram-na sobre quatro caibros fixados em xis.

Embaixo deixaram a casca,

pra lembrar a árvore que fora,

Em cima, lixada e envernizada,

Com seus veios a mostra.

Em uma extremidade um vaso de flores,

Colhidas no jardim logo ali,

Hora rosas, hora dálias, jasmim ou girassóis.

Na extremidade oposta repousa uma fruteira,

Frutas de época, nativas ali do pomar

A dois minutos a pé,

Manga, goiaba, banana e mamão ,

Cuidadosamente ajeitados,

Como um quadro de natureza morta,

Porém viva.

Não precisa pedir, não precisa pagar ,

Apenas pegar e saborear.

No centro, uma bandeja à japonesa,

Ornada com uma pintura do monte Fuji e flores de cerejeira,

Repousadas de borco sob esta, meia dúzias de xícaras,

Xícaras pretas por fora e amarelas por dentro,

Não que isso importe.

No centro da bandeja a garrafa de café,

Sempre visitada e disposta a servir,

A dona da casa dizia que casa sem café fresco

É casa sem alma,

Coisas do meu Brasil brejeiro.

A sua volta a família se reunia,

Recebiam os amigos,

Entre cafés e dedos de prosa

Ouvira tantas histórias,

Se pudesse contar encheria um livro.

Quantos pratos aparou,

Bolo de milho, de fubá, queijo e goiabada

Doce de leite, de abobora e cocada,

A criançada não enjeitava nada.

Bons tempo, quando a família sentava, em seu entorno,

Pra comer, tomar café, merendar e bater papo,

Mas como tudo passa,

As companhias minguaram

Os filhos crescidos voaram,

Os pais morreram,

Os amigos ralearam,

Ela agora é relegada

A uma simples peça de decoração,

Se pudesse chorava de tanta decepção.