PERDOANDO
De tudo que há, que houve, que haverá
só o perdão ficará. Só mesmo.
Não aquele perdão rouco, manco, quebradiço.
Não aquele perdão opaco, idoso, esquisito.
Mas o perdão de peito aberto, saliente, apurado.
Que sabe por onde andam seus guizos, sua fé.
Um perdão que nunca erra de tecla, de porta, de cais, de voz.
E nem de teta pra sugar seu leite certeiro.
Perdão arretado, sarado, abrupto,
cortejado pelos suores de todos homens.
Daqueles que rodopiam medos, que decapitam farsantes.
Perdão de boa memória, de boa face, de boa raiz,
de boa luz.
Que mergulha em águas lamacentas e se diz feliz,
que limpa ferrugens, que destranca vozes,
que enfrenta as feridas de Deus, todas elas.
Perdão desarmado, desmamado, desfrutado.
Será nesse perdão que o tempo se aposenta,
que a terra amansa, que o vento repousa
e que a vida, por fim, perdura.
Bem além de todo o sempre.