LENTO ADEUS
Hoje não encarei a manhã
em risos felizes,
nem coloquei na minha voz
nenhum grito primitivo,
alvo e único como as neves,
lá na serra.
Não me embeveci
com nenhuma paisagem
que suavemente desfilasse
sob o meu olhar brando.
Nem águas cantaram
sob os meus passos,
quando, célere, as transpus.
Nenhumas luzes
me falaram do belo,
nem houve brilhos
nos olhos dos outros.
Os céus não choraram,
apenas choveram gotas de tédio
em absoluta normalidade.
Despertei aborrecido,
sem pássaros alegres
que me saudassem,
nem contassem histórias,
como sempre fizeram.
Sem ligar o rádio,
dirigi o carro, apenas,
em gestos automáticos.
Cruzei a ponte, sem olhar
a cor das águas, ao passar.
A cidade estava baça,
sob o som da chuva
pesada, grossa.
Todos olhavam para o chão,
sem ver ninguém.
Solitário,
fiz o velório da Poesia,
num qualquer recanto
de pedras lisas...
Novembro, 2007