MEU JOAQUIM SUTURADO

Minhas rugas são caminhos

cavados pelas garras do tempo

como leitos de rios por onde correm

todas os líquidos da minha história

São ranhuras que encobrem a face

do jovem que se finge de morto

encruzilhadas por onde se encontram

os suores vividos e os evaporados

Neste rosto agora tão gasto

trago os minutos que me fizeram

e as cicatrizes invisíveis sob a epiderme

passada das carnes

O velho em que estou me tornando

nada tem a ver com meu coração abarrotado

mesmo que este fosse entupido ou enfartado

pois meus enchimentos ainda são poucos

para saciar a fome e a secura

do moço escondido e do rapaz nublado

Quem olha minhas superfícies enrugadas

não conhece os abismos da minha alma

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 11/02/2022
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