MEU JOAQUIM SUTURADO
Minhas rugas são caminhos
cavados pelas garras do tempo
como leitos de rios por onde correm
todas os líquidos da minha história
São ranhuras que encobrem a face
do jovem que se finge de morto
encruzilhadas por onde se encontram
os suores vividos e os evaporados
Neste rosto agora tão gasto
trago os minutos que me fizeram
e as cicatrizes invisíveis sob a epiderme
passada das carnes
O velho em que estou me tornando
nada tem a ver com meu coração abarrotado
mesmo que este fosse entupido ou enfartado
pois meus enchimentos ainda são poucos
para saciar a fome e a secura
do moço escondido e do rapaz nublado
Quem olha minhas superfícies enrugadas
não conhece os abismos da minha alma