AOS BEDÉIS DA DOR

Que me salvem as sereias do deserto,

e as fagulhas tenras do perdão.

Que me salvem os guizos soturnos da fé,

e o galope atônito desse chão atroz.

Que me salvem as miçangas do rei,

e o eco desnorteado do adeus.

Que me salvem as rebarbas urradas do ócio,

e as franjas encardidas do querer-bem.

Que me salvem o sono areado do gozo,

e a tranca rimada das revoadas perdidas.

Que me salvem as anáguas amotinadas sem saída,

e o requebro alvissareiro de quem for.

Que me salvem os sotaques escusos do medo,

e as miçangas roucas das pegadas em flor.

Que me salvem cada quinhão de descaso,

e o bojo abrupto dos que restarem;

Que me salvem os aplausos carregados de suor,

e o soco desarmado dos bedéis da dor.

Que me salvem os que ainda vão nascer,

e a suave cantoria desse cangaceiro de mim.

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 10/02/2022
Código do texto: T7449425
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