A REDENÇÃO DOS ARAÚJO

 

Ele esteve hoje aqui em casa.
No olhar cansado, a experiência dos anos.
Na voz enrouquecida,
A saudade das primaveras de antanho!
No jeito de conversar
A denúncia clarividente
De uma educação defeituosa,
Cerceada de afetos, de carinho
E ternura!

Por isso, o olhar distante,
Por isso o desconversar
Quando o assunto é a melhor forma
De educar nossos bigurrilhos.
Por isso, a secura dos olhos!

Vontade de ninar-lhe,
De beijar-lhe os olhos,
De afagar-lhe as mãos,
De dizer-lhe: eu sempre te amei
Ainda que não tenha aprendido
A demonstrar isso...

Talvez,
Talvez não haja mais tempo.

A cratera em minh'alma é gigantesca
E temo que esteja transferindo
Esse espólio de carência afetiva
A meus filhos...

Não!
Não quero repetir o erro...

Não quero falhar com meus filhos,
A(e)fetivamente,
Como falhou comigo o meu Pai,
E com o meu pai, o meu avô
E com este...

Quem falhou mesmo com meu avô??

Até onde eu sei
Meu avô se criou órfão dos pais,
Órfão de ternura,
Órfão de carinho!

E essa orfandade
Talvez tenha infundido sulcos
Irreparáveis de tristeza e solidão
Na combalida alma de meu avô!

Por isso a rispidez nos gestos soberbos
Por isso a angústia, a tristeza
De não poder demonstrar o amor...

Mas, ele, o meu pai,
Esteve hoje aqui em casa
E fez durinho com o meu filho
E passou a mão em seus cabelos
E brincou de esconde-esconde
Com o meu filho,
O Marcus Vinícius,
Que nasceu pra ser
Enfim,
A redenção dos Araújo!

 

Melgaço, Pará, Brasil, 29 de setembro de 2007.
Composto por Jaime Adilton Marques de Araújo.
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