Fragmentos de uma vida doente II
Fez-se noite de repente naquele dia de Setembro
Ideias macabras povoavam meu pensamento
Sem nexo, redopiando, eu lembro;
Gostaria esquecer aquele momento,
Horas e dias de incertezas e desilusão
Semanas e anos passados em verdadeira confusão.
Fixo, meu olhar, na paisagem verdejante
A água corria, cantante, em cascata no morro
E um soluço teimava e doia no meu peito
Desfeito e amargurado pedindo socorro...
Morte e vida lutando numa luta sem par,
Sempre alerta e controlando,
Oh! Como foi difìcil o tempo passar!
No meu leito de morte, febre me consumia;
Meditava em tal sorte e sofria.
Ao pensamento vinha tanto do que não queria!
Lia, lia sem parar, para o espírito librertar
E no filhote não pensar!
Recordando o que lia, frase dita por António Nobre:
“Terra quero comer ela já me cobre”...
De liberdade estavamos àvidas,saltando muros e veredas,
Saía irónica e rouca gargalhada
De nossas gargantas sempre quedas...
Já exausta daquela longa caminhada,
Enxergo, enfim,ao longe uma luz
Pequena brilhante que me pôs animada...
Será algo, meu Deus, que me conduz
Àquele querido e desejado lar?
Foram meses e anos decorridos e já sem esperança...
Mas eis que minh’alma canta em vez de chorar,
Caminhei,caminhei... depois da tempestade a bonança!...