O Homem
Um dia, quando for capaz de suportar a tempestade
Quando os ventos do oeste ventarem a tua culpa
Quando secar o choro e suas mãos cerrarem em oração, apesar da fé daqueles que já perderam
Quando, mesmo enganado, não mentir para o mentiroso
E se o ódio que te envenena, não cegar a tua visão
Se o medo que te consome, não calar sua voz
Se seus ouvidos já não sentirem o peso das vozes que te acusam.
Quando seus pensamentos e sonhos não te escravizarem
Quando a vitória e a derrota forem tratadas com a mesma efemeridade com que são feitas
Quando as palavras forem tratadas como armadilhas
Para pés cansados que suportam realidades densas
Quando perceber que se tornou esteio daqueles que um dia suportaram
E a única força que houver seja a própria lhe dizendo: “persista!”
Quando ao ver seus sonhos quebrados,
Estraçalhados por meio da maldade que te cerca
For capaz de entender que tudo que existe, só existe porque foi a tua mão que deu forma ao carbono
E quando tiver que novamente voltar ao ponto de partida
Para dar sentido a tudo aquilo que tiver sobrado
E reconstruir, com as notas da beleza do tempo, aquilo que lhe roubaram depressa.
Quando não sentir mais diferença entre o gentio e os reis
Quando tua firmeza suportar sem medo a dor dos amigos que se vão
Quando entender quem mais serve é o quem mais recebe
Que os rios se transformam em chuva para fazer brotar as sementes que se escondem
Quando for capaz de a todo segundo perceber o valor e o brilho do instante.
Ai então haverá uma terra para chamar de sua.
Haverá um lugar para chamar de lar.
Tu serás alguém.
O homem que deve ser.
Até lá, paciência.
Isso não é para todo mundo, meu filho.