O relógio de pêndulo

Havia um velho relógio de pêndulo na parede da sala da velha morta.

Eu acompanhava, com meus olhos curiosos de infância, o vai e vem ininterrupto de seu pêndulo.

Lembro-me ainda de seu murmuroso tic-tac noite adentro, o qual, ia penetrando fundo na alma de maneira hipnótica.

De seus teimosos ponteiros incansáveis correndo num círculo vicioso, sem nunca chegar a lugar algum.

No entanto, a lembrança mais fantasmagórica que tenho daquele intrigante objeto, é de suas profundas, sonoras e reveladoras badaladas que de hora em hora ecoavam na noite escura e enigmática.

As badaladas, as velas, o ataúde, o cadáver da velha, a noite escura, tudo era estarrecedor dentro de meu pequeno mundo pueril.

Não me lembro de quase nada daquela noite funesta, nem do esquife, nem dos presentes em vigília pela morta obedientemente exposta inerte, nem das velas a queimarem, nem das coroas a enfeitarem, nem de nada.

Mas me lembro muito bem do velho relógio de pêndulo da parede da sala da velha morta...

Ah, disso me lembro bem...