CONVERSA DE AM
conversávamos ontem amenidades
quando, de súbito, você me perguntou de quem eu tinha saudades
me fiz de surdo pois, aquele assunto, àquela hora, não haveria de descer bem
nobremente você respeitou meu silêncio como quem já sabe a resposta
passou a falar de tua via de moça quando ouvias distante o resfolegar do trem
saí e te deixei dormindo quase sentada
passei em revista cada cômodo da casa recém pintada
em cada um vi nas paredes a imagem projetada daqueles que me faltavam
menos do que eu imaginava e muito mais do que eu queria
bebi um café amargo, quando voltei já não estavam
pensei em te acordar com a resposta me arranhando a garganta
me acovardei. senão fosse no almoço teria que ser na hora da janta.
revi fotos, ouvi músicas, trouxe à baila coisas há muito esquecidas
e novamente senti doer a ferida invisível que dói em toda parte
soberana, cruelmente coroada, mas com justiça, regente de todas as feridas
retomei voluntariamnete o assunto enquanto te passava o sal
falei, falei, falei, deveras enfadonho, você não mudou o canal
a mente distante com os olhos embaçados se coaduna
falei de meu pai, das duas avós e de alguém não se encaixava
além de avôs, a bisa, um tio e até de ariano suassuna.