Seria vexame asfixiar,
debater enquanto sufôco,
se ver escurecer em prece.
Quem merece?
Conhaque, queimando entranhas,
amanhecer no labirinto da vergonha
sob o peso de uma fronha!
Era encontro de hora marcada,
de pontualidade medonha.
Não, não se mata assim -
não o que em si vive;
um desrespeito com a cegonha.
Deixe o cão enraivecido ladrar
lá do alto dos seus infernos!
As mãos levadas aos ouvidos
já não querem mais ouvir
palavras que escorrem da boca
sem freios, amargando na sala vazia
a frieza doce dos lábios descoloridos.
Mas sim, eu duvido
que sufoque até o grito!
Corre a buscar outro gole -
anestesiando a alma que sobe
pelas paredes e adormece no teto
gemendo pelo ausente,
buscando a São Clemente,
que decifre este mistério
pelas sombras deste labirinto.
No mais que se finde o pesadelo,
o ar que falta sob o travesseiro,
o veneno, que pela dor deixou-se matar
e que por isso alguém viveu…
a manhã enfim trará o milagre
que se desprendeu das entranhas
amanhecendo em flores verdades.
Taciana Valença
Foto: Taciana Valença