seus deuses

você que engole deus e deuses

e depois cospe nas faces alheias

com ironias e descasos

...e hostilidades

você que come deuses e deusas

...e vomita em terrenos secos e vazios,

baldios

alheios a seus recônditos

esconderijos dos seus medos

segredos sujos de suas covardias

e hipocrisias:

você com seus deuses

você com seus deuses ocos, caolhos, míopes

e deuses alados

sem a exuberância de ter asas

você, medos dos medos

medos dos medos

dos medos

segredos sujos de suas covardias

e hipocrisias :

você e seus deuses engaiolados

depravados e escrotos

estéreis, vis, mesquinhos

com o peito encharcado de solidão

e de dor

com as cores tonalizantes da razão

sem medida

escondida

e desprovida de delicadezas

com o peito encharcado,

rachado, deteriorado, enferrujado,

falido, esquartejado

engole teus deuses !

cospe teus deuses !

vomita teus deuses !

e ignora o Deus que mora em ti

e ignora Deus nas Bonitezas

dos silêncios

nas ausências, no germinar,

no sorrir, na lágrima

que rola,

no grão que estala, na areia que reluz

e exala brilho

e não mais serves a teus deuses - Bostas

você, engasgado de seus vômitos

de suas crenças - cercas

de suas gaiolas - muros

dos seus deuses escrotos

pernósticos, depravados

ousados sem ousadia da coragem

das rebeldias mais rebeldes,

mais vis, mais vagabundas

e abandonas seus deuses pornôs sem pornografias ,

servis de serviçais cegos, mocos e surdos, mudos

deuses prisões

em grades de feiuras lerdas

do seu ter razão

e seu ter certeza

que lhe apruma na sua cegueira

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 05/02/2022
Reeditado em 05/02/2022
Código do texto: T7445384
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