Lusco-fusco
Gosto do entardecer,
de como as sombras
das árvores da minha rua agigantam-se tornando-se oblongas.
Da luz lânguida e amarelada do sol
entregando-se ao horizonte,
dos passarinhos em frenesi
fazendo algazarra entre os ramos
dos oitis postos de sentinelas nas calçadas.
Da balburdia da molecada, a viver intensamente essa faze mágica da vida.
Da brisa úmida e refrescante
que nessa hora sopra do pasto lá perto de casa,
dessa claridade que vai sendo bebida
devagarinho pelo ocaso,
da noite que vai chegando
silenciosa e envolvente.
Do chegar das pessoas de seus trabalhos,
da vida que a rua vai ganhando,
das rodas de vizinhos nas calçadas
colocando a conversa em dia.
Do sol se pondo, multicor,
lá por trás daquela linha imaginária
criada pela nossa ilusão de ótica a qual chamamos horizonte.
Da saudade mansa que esse horário me propicia,
saudades de coisa boa,
dessas que até dói,
mas bem lá no fundo da alma
nos faz um bem estranho.
Gosto de ficar espreitando a vida
que passa, enquanto vou espremendo
um poema da minha alma.