CONSCIÊNCIA NEGRA

Sinhozinho

na Fazenda

ordena ao feitor:

nem que vosmicê

arranque o couro

dessa negrada,

tenho de embarcar

este café,

ao amanhecer.

Muitos desertaram

no caminho.

Não puderam

contar a história

dos oprimidos

daquele cafezal.

Outras vozes

não se calaram.

Se levantaram

a proclamar aos ventos

as atrocidades sofridas

pelo homem negro,

vindo da Mãe África.

Voz que não se calou.

Voz que não se cala.

Voz que não quer se calar.

Onde está o Sinhozinho?

Esta aí.

A pedir o seu voto,

em época de eleições.

Depois,

fica sentado,

ou a discutir irrelevâncias,

na Câmara,

no Senado,

no Palácio do Planalto

e a praticar o que chamam

de Democracia:

escravizar brancos, negros,

mulatos, indígenas...

com suas promessas não cumpridas,

suas dívidas não pagas,

com suas balas que nos matam

e proclamam de perdidas,

nos locais onde moramos,

na nossa casa,

onde vivem

os descendentes do passado,

tentando nos colocar no tronco,

nos açoitar.

Tentando nos ludibriar,

com estatísticas,

discursos,

com embromação.

Zumbi,

meu comandante,

meu guerreiro.

Volte

e leve todo o seu legado:

o povo brasileiro mazelado,

esculachado, deixado de lado,

para Palmares.

Agora somos muitos.

Temos tecnologia.

Não deixaremos nenhum deles

próximo chegar.