MINHA ALDEIA NÃO MORA MAIS AQUI
Há sempre uma casa sendo derrubada
e um prédio novo em construção
Andaimes de aço e tapumes
abocanham como bocas famintas
as paisagens imorredouras do passado
em que antes tateava o menino
até onde morava Lucinha
lá vizinha da quitanda
na qual crianças de agora
brincam ruidosas nos playgrounds
e crescem molhadas nas piscinas
Não restam mais chãos baldios
nem campinhos de terra batida
em meio aos arvoredos
em que de dia se jogava futebol
e de noite se namorava em silêncio
ao som dos grilos e das cigarras
embaixo do brilho cúmplice das estrelas
Farmácias igrejas e faculdades
são hoje monumentos fúnebres
onde se acham sepultados
os destroços e os fantasmas
de toda minha recuada infância
Quando morrer vou viver
sob os alicerces dos edifícios