Sei lá, por aí.

Um dia eu saí de casa

em busca da nova poesia.

Cerrei as cortinas,

tranquei a porta

joguei a chave fora.

“Onde?”

“Sei lá, por aí.”

Vaguei os dias

em terras incertas.

Bebi sonatas,

mastiguei cantatas.

Dormi as noites

nas serenatas

dos braços longos

da madrugada.

Compus meus versos

com amor e paixão.

Deixei meu sangue

tingir as rimas

acelerando o coração.

Fiquei no tempo

trocando cosmos.

Os anjos, direcionando meu vôo.

Os demônios, atiçando meus olhos.

E beijei todas as bocas.

E amei todos os corpos.

Compus novo poema

cem vezes torto.

Apaguei asteriscos,

deixei espaços,

grifei o finito.

E a poesia não coube em mim.

Voltei a casa

enfiei o poema por debaixo da porta.

Alisei minha roupa, despi-me do incerto

e, lentamente, parti.

“Para onde?”

“Sei lá, por aí.”