1977
Acredite em mim quando digo
que a vida é apenas uma diferença,
onde a noite é a linguagem do eterno.
Cidades não te amam nem esperam.
E brilho é ilusão pra aliviar certezas
em relativas marchas de expansão.
Eu costumava ser a resposta,
mas o que faço é matar tudo ao redor.
Fui deixado aqui para negar,
e registrar com a fúria dos condenados
a morte dos que viriam antes de mim.
Imitar sem sucesso a imprevisibilidade
e chorar quando nada mais restar.
O que se consegue vendendo pesadelos,
retalhos de carne de gente inocente,
apodrecimento a curto prazo
e muitas faces de resignação?
Repetição, mais repetição,
mesmas soluções em variações tonais,
uma pintura do dia em falso otimismo.
E eu finjo preencher os espaços vazios
pra que não venham os habitantes do acaso
dizer que a hora de hoje se encerrou.