Mergulho em Mim
Conhecer-se
É andar sem rumo
E nunca chegar
Ao fim do caminho
É ser sempre verde
Nunca fruto maduro
É voar e pousar
Em vários ninhos
É ser eterno andarilho
Ser filho do filho
É olhar-se no espelho
E não sê-lo
Porque o reflexo
Parece sem nexo
Não é agudo nem circunflexo
É apenas a superfície
Mesmo que eu veja
Cada traço do meu rosto
Cada cicatriz do meu corpo
Isso diz pouco sobre mim
É preciso ir até o subterrâneo
Escapar do frugal, do momentâneo
Fugir do não em busca do sim
Porões, cavernas
Atravessar a escuridão
Andar com as próprias pernas
Sem segurar nenhuma mão
Arranhões, cortes
Dor, lágrimas, sangue
É quase morte
Com toque de ressurreição
É o próprio Inferno de Dante
E, ao final, descobrir
Que meu eu está aqui e lá
Que sou o navio e não o cais
Que me conheci um pouco mais
Mas... que há
Infinitamente mais para descobrir ...