BOCEJANDO O TEMPO
O amor é desfrute, quitute, alento,
coloca nossos avessos, nossos apreços, nossos vãos
feito redemoinho alucinado.
Seus nervos trepidam num frenesi estonteante,
fazem a vida valer a pena,
fazem Deus brincar no serviço.
O amor apura o sangue, penteia a alma,
faz o tempo bocejar, chuta a morte pra longe,
inquieta o chão, sacode os ventos, a fé, o que for.
Amor, com seu gingado, com seus guizos, com seu feitio,
com seu chicote,
traz à tona o que foi largado pra trás,
esfarela medos, faz rima com a solidão,
manda o sol esquecer de aquecer.
Amor é legado abençoado, poros em polvorosa,
razão mor de não arredarmos o pé de vez.