AO SOLO BICENTENÁRIO DAS ÁRVORES

Vou me dissolver no ácido do dia

e me derramar em versos espalhados pelo chão

como pegadas que o vento seguinte há de apagar

Não sei se ainda estarei no próximo minuto

a hora e o amanhã são até lá mais incertos

preciso apenas é este século em que nele

hei de sucumbir às árvores da infância

que contemplaram meu correr nas ruas

e me acobertaram por detrás de suas sombras

nas brincadeiras meninas de esconde-esconde

Ninguém sobrevive à centúria dos dias

e ao peso de tantos horários acumulados

E quando tudo isto acabar

eu que vim do século passado

quero ser soterrado no solo das minhas árvores

nutrindo suas seivas de lembranças

e me transformar na paisagem das novas crianças

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 30/01/2022
Reeditado em 30/01/2022
Código do texto: T7441211
Classificação de conteúdo: seguro