AO SOLO BICENTENÁRIO DAS ÁRVORES
Vou me dissolver no ácido do dia
e me derramar em versos espalhados pelo chão
como pegadas que o vento seguinte há de apagar
Não sei se ainda estarei no próximo minuto
a hora e o amanhã são até lá mais incertos
preciso apenas é este século em que nele
hei de sucumbir às árvores da infância
que contemplaram meu correr nas ruas
e me acobertaram por detrás de suas sombras
nas brincadeiras meninas de esconde-esconde
Ninguém sobrevive à centúria dos dias
e ao peso de tantos horários acumulados
E quando tudo isto acabar
eu que vim do século passado
quero ser soterrado no solo das minhas árvores
nutrindo suas seivas de lembranças
e me transformar na paisagem das novas crianças