A NOITE
À noite soltam-se as medusas
As estrelas brilham
Há luzes espalhadas na cidade
E há gelo a tilintar nos copos e bebidas
À noite faço as pazes comigo
Redimo-me parto e vou
Esqueço os exércitos imbecis e baixos
Voo á altura de campanários e torres
E danço louco e nu numa dança infernal
À luz da lua
À noite encontro os outros
Noutros corpos noutras quedas noutras fugas
Reparo na beleza no seu estado puro
Observo incrédulo o orvalho a geada e a essência
À noite esqueço-me de que existo
Bebo rodopio e choro
conformo-me
com a minha existência ínfima
com a finitude próxima
experimento o medo e o terror
os dois em um
À noite
Não sou eu mais
Sou eu um outro
Que desconheço e temo.