COM AMOR, JOAQUIM

Quisera escrever uma carta

que sei jamais farei

para revelar murmurante

meus segredos mais miúdos

Confesso

espreito-te pelas frestas do cotidiano

(naquele dia em outubro passado

sem que sequer desses conta

furtei de ti o olhar de entardecer

com que absortas miravas o céu

como quem cata naturalmente anjos)

Até mesmo

nos momentos dos teus banhos

tantas vezes escutei por detrás da porta

o teu adornar de essências e espumas

e invejei

(ah, deus sabe como invejei!)

a água que percorria

acariciante teu corpo

como um amante em abraços

tão íntimos e úmidos

que nunca dei

Quisera escrever esta carta

que sei jamais farei

Joaquim Cesário de Mello

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 30/01/2022
Reeditado em 30/01/2022
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