COM AMOR, JOAQUIM
Quisera escrever uma carta
que sei jamais farei
para revelar murmurante
meus segredos mais miúdos
Confesso
espreito-te pelas frestas do cotidiano
(naquele dia em outubro passado
sem que sequer desses conta
furtei de ti o olhar de entardecer
com que absortas miravas o céu
como quem cata naturalmente anjos)
Até mesmo
nos momentos dos teus banhos
tantas vezes escutei por detrás da porta
o teu adornar de essências e espumas
e invejei
(ah, deus sabe como invejei!)
a água que percorria
acariciante teu corpo
como um amante em abraços
tão íntimos e úmidos
que nunca dei
Quisera escrever esta carta
que sei jamais farei
Joaquim Cesário de Mello