Caluda

No cume do silêncio há um gume,

Palheta a filetar duras verdades

Na carne, que quer uivos de costume,

A brisa sem pelúcias ou miragens

Que fala, do Everest de outro mundo,

Que a morte nos seduz por seus afagos,

Que o mar dentro da pele é mais profundo,

E os ombros do universo, não mais largos;

Que o âmago do ser não se dispersa,

Mas pode muito bem ficar oculto,

Oculto como está a estrela imersa,

Que um dia fulgurou, mas jaz um vulto,

Prensada pelo mar que ela secreta;

Um êxtase provindo do autoculto.

Prefere o afogar-se, mas sem pressa,

Terá a morte eterna por indulto.

E aqui, sem o olvidar-se de um profeta,

Inquire o nosso espírito inculto;

No pico do silêncio há o poeta,

Mas tudo o que ele ausculta é um tumulto

David Ariru
Enviado por David Ariru em 28/01/2022
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