Caluda
No cume do silêncio há um gume,
Palheta a filetar duras verdades
Na carne, que quer uivos de costume,
A brisa sem pelúcias ou miragens
Que fala, do Everest de outro mundo,
Que a morte nos seduz por seus afagos,
Que o mar dentro da pele é mais profundo,
E os ombros do universo, não mais largos;
Que o âmago do ser não se dispersa,
Mas pode muito bem ficar oculto,
Oculto como está a estrela imersa,
Que um dia fulgurou, mas jaz um vulto,
Prensada pelo mar que ela secreta;
Um êxtase provindo do autoculto.
Prefere o afogar-se, mas sem pressa,
Terá a morte eterna por indulto.
E aqui, sem o olvidar-se de um profeta,
Inquire o nosso espírito inculto;
No pico do silêncio há o poeta,
Mas tudo o que ele ausculta é um tumulto